Carta aberta sobre as eleições para Diretor da Faculdade de História
2013/2014
Estamos em época de consulta para
a Direção da Faculdade de História da UFG, e nós da Associação dos
Pós-graduandos (APG) da UFG, a partir de reuniões e debates entre os pós-graduandos
de História, queremos trazer contribuições ao debate e reivindicações
específicas aos candidatos.
A Faculdade de História está
inserida em um contexto do crescimento do Ensino Superior e da Pós-graduação em
nosso país, que ocorre porém, sem as verbas necessárias e pautado mais na
quantidade do que na qualidade. Os problemas centrais passam desde o
insuficiente financiamento público até a própria noção de Universidade, com a
introdução de mecanismos de “semi-mercado” no seu interior, as políticas de ciência
e tecnologia envidadas pelas agências de financiamento de acordo com critérios
exteriores à própria universidade e uma divisão hierárquica do trabalho
manifestada na divisão entre pesquisa (atividade valorizada no ambiente
universitário) e ensino (demasiadamente desvalorizado no interior da
instituição universitária).
Ficamos de um lado entre a
formação generalizada de uma mão de obra flexível e precarizada que se forma em
História e vai prestar concursos públicos, trabalhar em Call Center e/ou encarar
a dura realidade da super-exploração na escola pública e na privada e de outro
lado com uma formação de excelência acessível a poucos que poderão se tornar
Doutores e irão trabalhar nas escassas vagas do ensino superior, mendigar
verbas e recursos minguados para seus projetos junto a agencias públicas e
privadas e na maioria das vezes, infelizmente, passar longe da realidade
cotidiana das escolas públicas.
Na pós-graduação, a política de
incentivo à pesquisa e produção do conhecimento vem sendo direcionada por um
modelo que prejudica a qualidade e a autonomia dos estudos e pesquisas, uma vez
que incentiva a construção de programas de pós-graduação lato sensu pagos na
universidade pública, bem como hierarquiza a produção científica, priorizando
algumas áreas específicas (onde não se inclui a História) e uns poucos “centros
de excelência”, cujas pesquisas atendem a interesses de grandes grupos privados
e as chamadas vocações regionais, no caso de Goiás a preferência é pelas áreas
que atendam o Agro-negócio, para onde desembocam a maioria de recursos para a pesquisa.
Nesse contexto onde sobram poucos
recursos a serem disputados pelos cursos da área de Ciências Humanas, nos
defrontamos com bolsas de pesquisa insuficientes e com valores defasados,
critérios restritivos de bolsa aos que trabalham e nenhuma política de
assistência estudantil (creche, moradia para os que vêm de fora, auxilio
saúde...) . Essa realidade se soma às exigências de produtividade cada vez mais
severas, onde se aumenta a pressão para que os tempos de titulação diminuam-se (tanto
de qualificação, como de defesa de teses e dissertações), aumenta-se a
exigência pela participação em congressos e pela publicação de artigos
científicos e cobra-se a participação em atividades extracurriculares nos
Programas sem que seja dado o auxílio financeiro condizente com os gastos
efetivos nessas viagens.
Tal situação nos exige uma
posição de intervenção sobre essa realidade, porém o que vemos é toda uma
engenharia burocrática que nos impede, e ao conjunto da população, de
interferir nos rumos das políticas de educação, em especial na Universidade.
Os estudantes como principais
agentes da educação são tidos como inaptos à elaboração e interferência nos
rumos universitários. Os conselhos superiores e locais apresentam um número
reduzido de estudantes, a maioria das cadeiras destinadas aos professores,
reproduzindo uma lógica de que cabe a alguns intelectuais catedráticos definir os
rumos da sociedade, da universidade, da faculdade. Essa democracia restrita é vista
e resumida pelos entraves de leis, regras.
Entendendo que a Universidade e a
Faculdade de História estão inseridas em um campo de disputa política e
demonstrando nossa discordância com as definições dos rumos das políticas
educacionais que vem sendo definidas exclusivamente por aqueles que tomam
assento nas cadeiras da burocracia estatal, nos colocamos nessas eleições para
Diretor da Faculdade de História com uma pauta central, que é a radicalização
da democracia.
Infelizmente a falta de debates e
posicionamentos claros têm sido a regra há algum tempo na Faculdade de
História. Os próprios professores, vêm quase que reproduzindo uma “Democracia
da 1ª República Brasileira”, quando tudo se resolvia no andar de cima, para que
não houvesse necessidade de compromisso com “os de baixo” (sendo esses os estudantes)
. Não se debate e não se mobiliza os três setores da Faculdade para exposição
de posições políticas, programáticas, visões diferenciadas sobre o curso, o
ensino de história, o ofício do historiador... nada. E assim vimos absurdos
passarem incólumes nos últimos dez anos, como o não oferecimento/interrupção da
Licenciatura em História no noturno, eleição para coordenador fechada no
conselho interno sem votação aberta para os estudantes, voto no CONSUNI a favor
de Título de Doutor Honoris causa a Marconi Perillo (inimigo da educação),
entre outras atrocidades.
O Diretor da Faculdade de
História, mais que um simples gestor, administrador, deve ouvir o conjunto dos
setores que compõe a Faculdade de História, e se posicionar em questões gerais
e/ou específicas a favor ou contra esse modelo de educação e pesquisa
produtivista e excludente que vem se construindo. Nosso diretor é quem votará e
se posicionará no Conselho Universitário sobre questões relativas às reivindicações
e mobilizações recentes da greve, papel das fundações, critérios de pesquisa e
financiamento, entre tantas questões importantes.
Acreditando em um curso que deve
ser pautado pela democracia, que estimule o papel intelectual e crítico de
todos e que se relacione com a sociedade em sua função social, apresentamos as
seguintes reivindicações e posições aos candidatos a diretor :
- Pela construção e previsão de uma especialização gratuita, contra qualquer tipo de pagamento na Universidade Pública;
- Fomento iniciativas de extensão popular em relação com movimentos sociais organizados e ações comunitárias;
- Pela indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão com retorno do curso de graduação integrado;
- Por um plano emergencial de oferecimento de vagas de Licenciatura para os alunos do Bacharelado que vêm se formando no noturno desde 2005 – abertura de uma turma especial;
- Garantia e formalização de um espaço para publicação de pesquisas e artigos para os discentes
- Proporcionalidade na representação estudantil no Conselho Diretor da Faculdade;
- Pelo direito a bolsa de pesquisa na pós para trabalhadores;
- Pela prorrogação de prazos na pós devido à greve na universidade;
- Participação da Faculdade no Fórum Estadual em defesa da escola Pública, se envolvendo na defesa de melhores condições para o ensino;
- Por garantia de representação dos estudantes da Especialização nas vagas destinadas a estudantes na composição do Conselho Diretor da faculdade;
- Por um processo de reavaliação da grade, avaliação e currículo da especialização, com a participação dos estudantes que estão concluindo o curso;
- Pelo funcionamento das 8h ás 22 h do laboratório de informática da História e da Biblioteca do curso;
- Por melhores condições de funcionamento da faculdade no noturno, desde serviços internos até a intervenção da Faculdade junto à Reitoria por melhor iluminação e mais ônibus no período;
- Por transparência, critérios claros (com decisões coletivas e publicização dos recursos destinados à faculdade , garantindo recursos disponíveis para publicações, viagens e atividades acadêmicas dos estudantes;
- Realização de Assembléias Gerais para ouvir e debater entre estudantes, técnicos e professores questões mais polêmicas, sendo que estas possam ser propostas pelas organizações e representações de cada segmento;
- Contra a criação do curso de história a distancia;
- Contra instalação de câmeras e mecanismos de controle e repressão na faculdade de história;
- Que o Diretor se posicione no CONSUNI contra a retirada do Hospital das Clinicas da UFG, com sua transferência para a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares;
- Que o Diretor se posicione no CONSUNI pela abertura de concurso para as funções hoje já entregues a iniciativa privada dentro da UFG. (alimentação, transporte, segurança e limpeza);
- Apoio e respeito às decisões autônomas dos movimentos organizados de professores, estudantes e técnicos, sem retaliação ou prejuízo aos mesmos por suas posições;
- Estabelecimento de medidas para prevenir e combater o assédio moral entre professores e estudantes.
Anexamos também as seguintes
propostas que nos foram enviadas por estudantes da graduação:
- · Maior divulgação das atividades acadêmicas, como editais de bolsas de pesquisa, projetos de extensão, grupos de estudo, laboratórios, indicação de livros pra biblioteca, etc.
- · Representar pautas estudantis nos conselhos superiores da universidade, como o CONSUNI e a Câmara de Graduação;
- · Dialogar com as entidades estudantis, atendendo às reivindicações dos estudantes;
- · Mediar as reivindicações estudantis junto aos órgãos superiores da universidade;
- · Dar apoio à Semana da História, evento acadêmico organizado pelos estudantes;
- · Fomentar atividades acadêmicas e políticas promovidas pelos estudantes no interior da universidade, bem como auxiliar participação dos acadêmicos em eventos fora da Faculdade de História da UFG;
- · Divulgar e debater a reforma na Grade Curricular do Curso de História;
- · Dar maior atenção ao período noturno, que carece tanto de funcionários que possam atender os estudantes, quanto da realização e divulgação de atividades acadêmicas;
- · Divulgar e debater com os estudantes a transição do prédio da Faculdade de História;
ASSOCIAÇÃO DOS PÓS-GRADUANDOS
DA UFG
Goiânia, 29 de novembro de 2012